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Não foi uma e nem duas, estas mulheres são difíceis de encontrar, fui em busca das benzedeiras. Mulheres que curam praticamente tudo, mulheres dotadas de muita fé, utilizam as mãos, plantas e objetos em sua atividade de cura. A benzedura é uma prática ancestral, tal prática encontra-se em extinção, já que muitas das detentoras deste tipo de conhecimento não estão mais presentes entre nós. Por respeito a decisão delas, não irei divulgá-las.
Em entrevista com benzedeiras de Camaquã (RS) e região, podemos descobrir que a benzedura nunca fez tanta falta como hoje.
Caro leitor, a “Dona” representa a figura das benzedeiras que entrevistei. Apesar de não divulgar nomes, Dona são as mulheres que foram entrevistadas em uma só personagem, afinal, todas elas têm pontos em comum.
Dona cura de tudo, encalho, bronquite, fratura e até mesmo mau olhado. Senhora humilde, fleuma e que demonstra muita sabedoria, diz que as pessoas procuram ela para tudo e não importa a hora, ela está sempre pronta e não cobra nada por isso. “Eu tô aqui no mesmo cantinho de sempre”.
Rodeada por imagens da Nossa Senhora, Dona acorda toda manhã, bem cedinho, e faz orações para as mais diversas figuras religiosas. Liga seu rádio, toma café e começa a preparar o almoço. Senhora comum, mas quando bem observado, é muito mais que os olhos podem ver.
Quem somos nós para falar de fé e da crença alheia, mas para muitas pessoas a fé é muito mais poderosa do que parece. E sim eu digo fé, não religião. A benzedura não tem religião, não tem dogma, não tem lei. A prática mistura crenças de diversas religiões, isso vai depender muito de quem benze. Representantes de um conhecimento ancestral, as benzedeiras agem onde a ciência desconhece (ou pelo menos finge desconhecer), para quem acredita, as coisas aqui funcionam.
Dona ajuda as pessoas há mais de 40 anos, quer alguém com mais histórias que ela? Duvido você encontrar. O fato é que Dona têm observado que as pessoas estão perdendo a fé, e volto a dizer A FÉ, não tem nada a ver com a religião. Ela conta que todas religiões são válidas, pois tratam do mesmo Deus. Entretanto, a prática do benzimento vem sendo esquecida por uma interferência de algumas religiões, por temer de um conhecimento científico que condena a prática de benzer. “Isso faz falta hoje em dia, as pessoas se apegam a coisas que não tem valor”, diz Dona.
“Meu filho, não há nada que a fé não possa curar”. As pessoas vão até Dona, as vezes com medo, às vezes desesperadas e as vezes tristes, mas acreditando você ou não, sabem como elas voltam? As vezes surpresas, de vez em sempre agradecidas, quase sempre satisfeitas e claro… sem uma faixa sobre seus olhos. Isso serve para que as pessoas entendam que nem tudo é a base de cápsulas, existem outros caminhos, outras formas de se curar. Entenda você ou não, é melhor que existam as perguntas do que as respostas.
Além Do que os Olhos Podem Ver é uma série de crônicas/reportagem escritas por Daniel Oliveira, publicadas no portal de notícias Blog do Juares. Além do que os olhos podem ver narra histórias que não ganham muita visibilidade entre a sociedade, histórias de amor, superação, histórias que mostram que há muito mais do que nós podemos observar. A notícia está em todo o lugar, basta que o jornalista saiba buscá-la. O autor está atrás de histórias, não importa onde, quando, porquê ou como.
Confira os episódios anteriores:
1. A memória da Praça dos Macacos
2. Preta também merece uma crônica
