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Empresários irrigaram contas de ex-dirigentes do Inter na gestão Piffero, aponta MP

Investigadores, com autorização da Justiça, quebraram o sigilo bancário dos envolvidos

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10/01/2019 - 10h48min Correio do Povo / Foto: Mauro Schaefer / CP Memória Corrigir

Em dezembro de 2015, cinco dias após ser contratado pelo Inter e receber R$ 150 mil de "luvas", fora salários e direitos de imagem, familiares do lateral direito Paulo Cézar Magalhães "recompensaram" o então vice de futebol, Carlos Pellegrini, depositando R$ 30 mil em sua conta bancária no Banrisul.

Porém, o caso não é isolado, segundo apurou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público gaúcho. Trata-se na verdade de um modo de operação que tornou-se rotina no departamento de futebol colorado durante a gestão do presidente Vitorio Piffero (2015/2016) e que envolveu outros empresários, entre eles Giuliano Bertolucci, considerado um dos mais importantes do futebol mundial, Fernando Otto e Rogério Braun, acostumados a fazer negócios com a dupla Gre-Nal.

O Correio do Povo teve acesso a parte do material disponibilizado pelo MP aos advogados dos investigados a partir de segunda-feira, quando se encerrou o recesso da Justiça. Eles receberam pendrives com dezenas de volumes e milhares de documentos que comprovariam, "com clareza", a tese dos investigadores. "Negociações e renovações com atletas, que normalmente não seriam realizadas, pelo menos não nos patamares econômicos constatados, foram efetivadas sob os cuidados do investigado Carlos Capparelli Pellegrini, mediante prévio ou posterior repasse de valores", conforme afirma documento elaborado pelo MP.

Os investigadores, com autorização da Justiça, quebraram o sigilo bancário dos envolvidos entre os dias 30 de junho de 2014 e 1º de julho de 2017. Portanto, incluindo alguns meses imediatamente antes e outros imediatamente após o fim da gestão de Piffero. No período, encontrou uma série de depósitos e transferências de contas ligadas aos empresários ou deles próprios para Pellegrini - e também a outros dirigentes - pouco antes ou logo depois a realização de qualquer tipo de negociação envolvendo o departamento de futebol do clube, como contratação, venda ou renovação de contrato.

Giuliano Bertolucci é dono da Euro Export Assessoria e Propaganda Ltda, que participou de grandes transações do futebol mundial e, segundo a revista inglesa FourFourTwo, foi o "sexto empresário mais poderoso no futebol" em 2016, época que Vitorio Piffero comandava o Inter. Ele é investigado por uma série de repasses aos dirigentes colorados, daí não só a Pellegrini.

Segundo a apuração do MP, Bertolucci fez transferências e depósitos, usando a própria conta bancária, a da empresa ou até de "laranjas", diretamente ou passando pela conta de terceiros, para Piffero, Pellegrini e para o então vice de administração, Alexandre Limeira, "já provavelmente antevendo vantagens financeiras que poderia usufruir no clube". O primeiro repasse ocorreu ainda antes de os dirigentes assumirem e totalizou R$ 150 mil com duas transferências, dias 28 de novembro e 12 de dezembro de 2014, de R$ 80 mil e R$ 70 mil, respectivamente, ambas diretamente na conta da Stadium Consultoria e Assessoria Administrativa e Tecnológica LTDA, cujo sócio-administrador é Alexandre Limeira.

Em datas próximas dos dois depósitos, Piffero, Pellegrini e Limeira tiveram as contas irrigadas por dinheiro vindo de Bertolucci. O ex-presidente, segundo consta nos documentos já em mãos dos advogados dos investigados, teria recebido dois repasses da Stadium, totalizando um valor de R$ 65 mil, com transferências realizadas nos dias 7 e 19 de novembro, de R$ 45 mil e R$ 20 mil, respectivamente.

Porém, Bertolucci não resumiu a sua participação a esses dois depósitos que totalizaram R$ 150 mil. "Coincidentemente, dias depois, repetindo o ciclo delituoso antes referido, tão logo iniciada a gestão de Vitorio Piffero no Internacional, com Alexandre Silveira Limeira e Carlos Capparelli Pellegrini exercendo funções importantes, respectivamente na administração e no futebol do clube, foi contratado o atleta Rever, com agenciamento entre os clubes realizada pelo empresário Giuliano Pacheco Bertolucci e a intermediação de Fernando Luis Otto, (...) em condições que jamais foram realmente esclarecidas", diz documento do MP. Após o período da eleição que levou Piffero ao cargo, não foram encontrados depósitos para Piffero e Limeira.

Bertolucci era importante credor do Inter e recebeu, no dia 11 de agosto de 2015, o pagamento de R$ 10.204.771,64 a título da participação nos direitos econômicos de Oscar, vendido pelo clube ao Chelsea em julho de 2012 por, segundo a imprensa inglesa, 25 milhões de libras (cerca de R$ 79 milhões na época). De acordo com a investigação, as entregas de dinheiro feitos aos dirigentes ocorreram para "agilizar" o pagamento do valor, devido pelo clube ao empresário desde a gestão anterior.

Na sequência dos dois anos de gestão, os repasses de Bertolucci, agora não mais usando a conta própria, mas a de empresas e terceiros ligados a ele, como a Bramex-Fer Comércio de Ferros e Recicláveis LTDA e a Bramex Service Comércio e Serviços de Ferro LTDA, ambas vizinhas em Barueri (SP), seguiram encontrando Pellegrini. O MP encontro seis transferências em benefício do então vice de futebol, entre 29 de junho e 29 de outubro de 2015, que alcançaram R$ 70 mil. Há também repasses de empresas ligadas a Bertolucci na conta da filha de Pellegrini, totalizando R$ 14.999,00, sendo R$ 10 mil em dinheiro e R$ 4.999,00 em cheque.

Pellegrini recebeu R$ 333 mil em 67 depósitos em dinheiro enquanto foi vice de futebol

O Ministério Público também apurou que Pellegrini apresentou uma movimentação financeira atípica durante o período da gestão Piffero. De acordo com a investigação, além das transferências e depósitos identificados pela quebra de sigilo, como os com origem em Bertolucci, por exemplo, há outros "inúmeros depósitos em espécie (grifo do MP) na conta de Carlos Capparelli Pellegrini, em valores e frequência desproporcionais ao histórico do investigado, a indicar que podem ser fruto do mesmo agir delituoso, originados de algum intermediário/agente envolvido com negócios do clube".

Se nos seis meses anteriores ao início da gestão de Piffero havia apenas um depósito em dinheiro na conta de Pellegrini (R$ 1.282,40 no dia 10 de setembro de 2014), no transcorrer do tempo entre 5 de janeiro de 2015 e 3 de janeiro de 2017, início e final da gestão, foram encontrados 67 depósitos em dinheiro que totalizaram R$ 333.440,92. Os valores variaram entre R$ 1,7 mil e R$ 30 mil.

"Mais uma vez registre-se que até Carlos Capparelli Pellegrini assumir o futebol do Sport Club Internacional, quando se imaginava que desempenhava com mais assiduidade alguma atividade econômica própria, não tinha o costume de receber valores em espécie em sua conta corrente. Bastou assuumir na administração do clube, (...) para começarem a pipocar vultosos depósitos em dinheiro e transferências eletrônicas, a grande maioria sem identificação, outros como ora analisados, de procedência suspeita ou vinculada a empresários com quem o clube efetuou algum tipo de negociação", encerra o MP.

Contraponto

O Correio do Povo tentou entrar em contato com Giuliano Bertolucci, mas, avesso a entrevistas, não atendeu as ligações da reportagem. O advogado de Carlos Pellegrini, Jorge Teixeira, disse que prefere não se manifestar enquanto não analisar toda a documentação disponibilizada pelo Ministério Público.

Vitorio Piffero também não respondeu as chamadas da reportagem. Alexandre Limeira, em mensagem, disse: "A investigação corre sob sigilo, por cuja razão não posso me manifestar a respeito do que nela contém.”

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