A pandemia da Covid-19 mobilizou alunos, professores e pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para pensar e trabalhar em prol de comunidades dos bairros Morro Santana e Glória/Cruzeiro/Cristal, em Porto Alegre. Já foram arrecadados alimentos e distribuídos álcool em gel para os moradores.
O Projeto Rede de Solidariedade com e pela comunidade contra o coronavírus (Solicom) une 30 estudantes e 60 docentes da universidade, que trabalham em conjunto com os movimentos Periferia Move o Mundo e Frente Favela Brasil.
A proposta, segundo a professora da Faculdade de Farmácia e uma das coordenadoras do projeto Denise Bueno, é ouvir as demandas da comunidade atendida, e mobilizar esforços para obtenção de recursos.
A primeira necessidade dos moradores frente à crise do coronavírus foi a alimentação. A partir desta situação, o Solicom angaria doações de alimentos e as encaminha, diariamente, para os locais.
"Não é uma demanda que não percebemos antes ou não saibamos. Porque as pessoas foram afastadas dos seus trabalhos em função do isolamento e há a lacuna deixada pelo poder público. Os alimentos já fazem falta nas comunidades. Agora a situação ficou mais difícil", reflete a professora
Com as doações recebidas entre terça-feira (24) e quarta (25), foram montados 11 kits com arroz, feijão e macarrão. A estimativa é que os kits sejam suficientes para três dias de alimentação básica para uma família de quatro pessoas.
"Precisamos de mais, pois a demanda por alimento nas favelas aumenta diariamente devido a crise instalada pela pandemia", ressalta Denise.
A professora reitera que materiais de limpeza também são itens que faltam nas comunidades. E parte da produção de álcool em gel que é feito na Faculdade de Farmácia da UFGRS também foi destinada para os locais atendidos pelo projeto.
"Não são situações simples, mas que vamos gerenciando", aponta a coordenadora.
Informações sobre doações podem ser encontradas no site do Solicom ou pelo e-mail [email protected].
A rede conta com todos os cursos da área da saúde da Ufrgs, com o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e com a Faculdade de Arquitetura.
Trabalho de enfrentamento
"Há muito tempo já atuamos dentro das comunidades e reconhecemos os determinantes sociais impactantes da comunidades. Já sabemos da falta de água, do tamanho da residência, da falta de luz, então, trabalharemos o enfrentamento disso dentro da realidade existente", diz a professora, que já trabalha há 17 anos nas comunidades.
A invisibilidade das pessoas das comunidades não pode passar despercebida pela universidade federal, na visão da professora.
"Temos o entendimento que essa população é de maior vulnerabilidade social e tem maior suscetibilidade ao coronavírus. Entendemos que não podemos abandonar as comunidades a sua própria sorte", enfatiza.
Segundo a coordenadora, a preocupação inicial foi o isolamento social e familiar dos próprios participantes do projeto, para então, pensar no próximo.
"É perceber que essas pessoas estão conosco diariamente na universidade, elas estão diariamente conosco em todos os lugares. É o que chamamos de população invisível. São as pessoas que tiram o lixo, quem vem limpar a nossa casa, são eles que estão nessas comunidades", enfatiza.
O projeto, para além de auxiliar na prevenção e no combate ao coronavírus em áreas mais suscetíveis da Capital, visa trabalhar as potencialidades do local.
"Vamos entendendo as fragilidades, necessidades e trabalhando, mas, principalmente, as potencialidades dessas comunidades. A ideia é que a gente aprenda com eles e vice-versa. Isso faz com que as comunidades, a partir delas, se potencializem e se fortaleçam", ressalta a professora.