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Isolada há dois meses, gaúcha relata confinamento em cruzeiro nos Estados Unidos: 'Impotência'

Myrella Allgayer, de 27 anos, está em uma embarcação no porto de Miami. Natural de Santa Cruz do Sul, a jovem era contratada como garçonete, foi "desligada" pela empresa responsável pelo navio e não tem previsão de retorno ao Brasil

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23/05/2020 - 12h16min Corrigir

Muitos brasileiros ainda aguardam retornar para casa em meio à pandemia do coronavírus. A garçonete Myrella Allgayer, de 27 anos, está isolada desde o dia 15 de março em um cruzeiro atracado no porto de Miami, nos Estados Unidos, sem previsão de quando poderá voltar a Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo.

A gaúcha trabalhava em uma embarcação Oceania Cruises, do grupo da Norwegian, que fazia rotas pelo mar do Caribe. Com o surto da Covid-19, os passageiros desembarcaram em Miami e a tripulação foi até Nassau, nas Bahamas, antes de retornar à costa norte-americana — onde está atualmente. A sensação, segundo Myrella, é de "impotência".

"Não há nada que nós possamos fazer daqui de dentro para resolver a nossa situação. Só podemos esperar, e isso é muito frustrante. É como uma bola de neve: a espera gera ansiedade, gera saudades de casa, gera raiva e tristeza", relata Myrella.

Alguns funcionários de outras nacionalidades retornaram para casa em voos comerciais. Ela, contudo, desistiu de voar para o Brasil porque a passagem custava entre 3 e 4 mil dólares e muitos voos eram cancelados diariamente.

“No início da pandemia, tudo foi mais restritivo. Só podia sair da cabine para comer e trabalhar. Tínhamos horários para aproveitar o sol e se exercitar”, conta.

Susto nos primeiros dias: "Navio fantasma"

Nas primeiras semanas, conforme conta Myrella, os funcionários trabalhavam limpando os restaurantes e empacotando os itens do navio. “Parecia um navio fantasma”, relata.

Exceto a piscina, as demais dependências eram liberadas e os tripulantes podiam circular. No entanto, após um profissional apresentar sintomas de resfriado, todos os demais foram isolados por duas semanas. Vários tiveram dor de garganta ou de cabeça.

“Os que apresentaram sintomas, foram isolados por 14 dias e depois liberados. Todos estavam bem”, descreve.

Myrella conta que a suspeita aumentou o rigor do controle na embarcação. Seguranças fiscalizavam a circulação e checavam temperatura do corpo e a higiene das pessoas ao entrarem em espaços comuns.

"Para entrar no restaurante, em qualquer horário de refeições, alguém 'tira' a nossa temperatura e faz um registro pela nossa ID, que é um cartãozinho que temos aqui", descreve.

Desde março, com a redução de carga horária, o salário também diminuiu. O término do contrato, que iria até o fim de maio, também foi antecipado.

"Dentro do navio, nós temos três refeições por dia, café e água de graça. O que faz falta são produtos de higiene: pasta de dente, xampu, sabão em pó. Esses produtos são vendidos a bordo, mas logo acabam porque é o que todos precisam", explica. "Na última semana, a companhia fez uma mudança. Eles nos dão 10 dólares de crédito por dia, então não preciso mais gastar o que tinha economizado."

Sem previsão de retorno

A mudança alterou também o status de Myrella. De "waitress assistant", algo como garçonete assistente, ela se tornou "stand down crew", termo que define as equipes que não estão trabalhando.

"É como se eu estivesse aqui de férias, porque ainda não conseguiram me mandar para casa", afirma.

O problema é que ela não tem esta previsão. Conforme a santa-cruzense, o governo dos Estados Unidos só permite o desembarque para quem puder deixar o país em voo fretado, sem circulação por aeroportos comerciais.

Por outro lado, ela diz que preencheu um formulário para pedir o retorno ao consulado brasileiro. Como resposta, segundo Myrella, o Itamaraty informa apenas que está em contato com as companhias para combinar a repatriação.

"Para ser sincera, não estamos contando com o governo brasileiro. As respostas do presidente [Jair Bolsonaro] à pandemia têm sido assustadoras. Se ele não se importa com o que está acontecendo no país, não consigo imaginar um cenário em que o governo se importaria com a nossa situação", afirma.

Ficam as amizades

Mas as lembranças não são apenas desesperançosas. Myrella conta que, ao longo do processo e com as constantes trocas de navios e cabines, os funcionários foram reunidos por nacionalidade, o que reforçou alguns laços de amizade.

"Tenho passado mais tempo com brasileiros. Estou sempre com duas amigas do Paraná. Então, tem algumas pessoas se reencontrando, e através disso vou conhecendo alguns. Com a separação, fui afastada dos amigos de antes, que eram de outras nacionalidades", lamenta.

A tristeza é por deixar de conviver com algumas pessoas de culturas diferentes. Ela define que a experiência em seis meses de cruzeiro equivale a um ano em casa.

"A gente trabalha duro no navio, sem ter dias de folga, com carga horária que pode chegar a 10 horas, 12 horas por dia. Então, quando havia uma festa, era o momento em que todo mundo relaxava, cantava, dançava. Era muito bonito ver um grupo de indianos dançar uma música do país deles ou os jamaicanos fazendo coreografias. O navio é um lugar internacional, é um festival de culturas diário. E eu sinto muita falta disso", emociona-se.
 

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