Saúde

Janeiro Branco: a importância de se falar sobre saúde mental

Confira a entrevista especial com a psicóloga Maria Inês Corleta Evangelista a respeito das doenças psicológicas, que já afetam cerca de 86% da população brasileira, de acordo com a OMS

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31/01/2020 - 11h37min Matheus Garcia / Blog do Juares Corrigir

O primeiro mês do ano se encerra hoje (31) e com ele a campanha do Janeiro Branco, criada para a conscientização da importância de se debater sobre saúde mental e prevenir as doenças envolvendo a mente, como a depressão, ansiedade e síndrome do pânico.

O movimento surgiu em 2014, na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, a partir da preocupação de estudantes e profissionais de Psicologia com o aumento alarmante dos casos de doenças psicológicas no mundo. Porém, foi somente em 2016 que a campanha tomou uma maior proporção ao ser divulgada nas redes sociais e, também, por outros psicólogos do Brasil. Foi pensada estrategicamente para acontecer em janeiro, por ser o mês no qual as pessoas estão mais envolvidas em novos projetos de mudança de vida e hábitos, movidas pela virada do ano.

Conforme dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o campeão latino-americano em ansiedade. Já são 9,3% da população sofrendo com algum transtorno de ansiedade, sendo considerada uma epidemia. E no ranking dos países com mais casos de depressão, o Brasil está em quinto lugar, com 5,8% dos brasileiros afetados pela doença. São cerca de 2 milhões de pessoas no país e 320 milhões no mundo que tem depressão.

A equipe do portal de notícias Blog do Juares (BJ) conversou com a psicóloga camaquense Maria Inês Corleta Evangelista, especialista em Psicologia Clínica e Escolar, para ter um parecer profissional em torno do assunto e contextualizá-lo na realidade que Camaquã enfrenta.

No aprimoramento da saúde mental na rede pública de saúde da cidade, Maria Inês destaca o papel crucial do Centro de Atenção Psicossocial. Em Camaquã, o CAPS Harmonia, localizado na Avenida Ernani Silveira, bairro Olaria, segundo informações da prefeitura, atende em média 100 pessoas em dia de consulta agendada, 50 nos dias sem consulta e cerca de cinco atendimentos a domicílio por mês.

Um dos fortes motivos para o aumento das doenças psicológicas no mundo é o preconceito que a maioria da população ainda tem em cima dessas patologias. “As pessoas acham que quem só quer estar isolado, deitado em cima de uma cama, é preguiçoso e não quer trabalhar. Não tem nada de preguiça, é uma doença. E o doente, muitas vezes, precisa de um norte para enxergar que ele não está bem e precisa de ajuda”, reforçou a profissional. Por isso, é necessário ficar atento às mudanças bruscas de comportamento das pessoas que estão à sua volta. Aquele amigo ou parente que está mais ausente das festas ou reuniões, dos passeios, que não está respondendo às mensagens... Preste atenção, pois ele pode estar precisando de ajuda!

A psicóloga salienta a importância, nestes casos, de não se isolar e procurar manter uma rotina saudável. “É necessário ter bons relacionamentos, praticar exercícios físicos, criar vínculo com a comunidade, participando de atividades sociais, interagir e sair do isolamento afetivo”, disse.

Também é preciso ficar atento ao meio social em que se está inserido. Ambientes com muitas brigas e discussões, nos quais as pessoas possuem atitudes depreciativas, como humilhar e xingar constantemente o próximo, devem ser evitados ao máximo por quem já apresenta sintomas de alguma doença psicológica. “Quanto mais emocionalmente estável seja seu ciclo de convivência, melhor é para você. As pessoas tendem a absorver muito fácil as energias do ambiente e das pessoas que vivem e convivem. Principalmente as crianças, que estão no processo de construção de identidade”, afirmou Maria Inês.

Os principais sintomas de um quadro de depressão são: fadiga, insônia, falta ou aumento de apetite e desprazer em fazer atividades que anteriormente gostavam de praticar. Já os mais iminentes da ansiedade são: medo ou receio, em excesso, de situações que ainda não aconteceram, medo de falar em público, medo de lugares fechados ou com grandes aglomerações, alterações do sono, tensão muscular, inquietações constantes, pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos, taquicardia e sudorese.

Ambas as patologias atingem principalmente a faixa etária dos jovens entre 15 e 29 anos. De acordo com Maria Inês, as mudanças sociais são outra das causas da elevação dos casos de doenças mentais. “O mundo se desenvolveu, mas as pessoas não estavam preparadas psicologicamente para acompanhar essa evolução. A sociedade está mais exigente no quesito de informação e qualificação. Com isso, os pais estão mais exigentes. Os jovens se sentem pressionados demais e acham que não vão dar conta de tanta cobrança”, disse. “O imediatismo em que vivemos, as preocupações em demasia com o futuro e o senso exagerado de competição desenvolvidos já na infância, mas também sendo praticados pelo jovem ou adulto, fazem com que o indivíduo cresça frustrado, uma vez que não venha cumprir com algumas metas e objetivos na vida”, completou a psicóloga. Para ela, é essencial que se entenda que o ciclo de ganhos e perdas é natural da evolução humana.

Reconhecer que cada um tem o seu limite e procurar o autoconhecimento tornam-se pilares essenciais na busca de uma saúde mental mais saudável. “Acredito que outro motivo que colabora para o agravamento do número de pessoas com enfermidades mentais seja a perda de alguns valores morais, como a empatia e respeito com o próximo, e a espiritualidade. Quem cuida da mente e do espírito, vive melhor. Porém, as pessoas estão mais descrentes e individualistas. A internet ajuda a intensificar essa questão do individualismo e, também, do ego exacerbado e a disputa de quem tem mais likes ou quem é mais feliz, mesmo que essa felicidade seja, na maioria das vezes, somente nas redes sociais”, apontou a especialista.

Maria Inês salienta também a importância de se procurar um profissional habilitado para fazer a avaliação correta, dar o diagnóstico e indicar o melhor tratamento do caso. “Nós lidamos com vidas e respondemos a um rigoroso código de ética da profissão. Sempre recomendo que busque referências do psicólogo antes de marcar uma consulta”, disse.

Por fim, na opinião da especialista, a campanha do Janeiro Branco está aí para fazer o alerta à população, principalmente aos governantes e meios de comunicação, de como é válido o debate acerca do assunto saúde mental. “Precisamos investir e divulgar mais para que essa campanha tome uma proporção ainda maior. Se faz necessário abordar esse tema para que não haja uma evolução maior dessas doenças na cidade, no Estado, no país, no mundo. Ou que quem já tem alguma dessas patologias e ainda não buscou auxílio, não desenvolva uma doença mental mais grave, ou até mesmo chegue a uma atitude extrema de desespero, como o suicídio, porque isso é possível. No estágio mais alto da depressão, a pessoa já não aguenta mais tanto sofrimento que só pensa em morrer. Quem tem transtorno de ansiedade e não trata, pode evoluir a doença para uma síndrome do pânico, o que é ainda pior. Por isso, é de extrema importância começarmos o ano já falando de saúde mental, cuidando dela, para passarmos por ele bem, superando todos os problemas, pois eles sempre vão existir”, concluiu Maria Inês.

 

Psicóloga Maria Inês Corleta Evangelista
CRP 07/02255
Telefone: (51) 984472137
Especialista em Psicologia Clínica e Escolar

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