A defesa do vereador André Carús (MDB) protocolou, na manhã desta quarta-feira (2), um pedido de licença na Câmara Municipal de Porto Alegre. O parlamentar, preso numa operação da polícia na terça-feira (1), é suspeito de exigir que os servidores façam empréstimos consignados e repassem o dinheiro para ele.
De acordo com o advogado Jader Marques, a medida tem como objetivo afastar suspeitas de que o parlamentar possa interferir nas investigações e "reafirma seu compromisso de colaborar com o inquérito".
"A defesa acrescenta que o vereador mantém firme seu propósito de esclarecer integralmente os fatos, provando sua inocência", informou em nota enviada ao G1.
A licença é por tempo indeterminado. A presidente da Câmara irá decidir quando começa a valer.
Investigação
Na operação, foram cumpridas três ordens de prisão e 10 de busca e apreensão, inclusive no gabinete do parlamentar, na Câmara de Vereadores da Capital, e na casa dele e de assessores.
Além do vereador, outras três pessoas foram presas, uma delas em flagrante por porte ilegal de arma.
Em entrevista à RBS TV, na segunda-feira (30), Carús negou as acusações. "Nunca fiz isso, jamais. Jamais, nem tenho notícia de que isso pode ter acontecido no meu gabinete. Para mim é novidade".
As buscas também atingem uma financeira e os departamentos de Água e Esgotos (Demae) e de Habitação (Demhab) da prefeitura da Capital, onde trabalham cargos comissionados indicados por Carús.
Esquema revelado por ex-assessora
"Estamos investigando, em princípio, o crime de concussão, que é exigir vantagem indevida a partir do seu cargo público, valendo-se do cargo público, e também associação criminosa", disse o delegado responsável pela investigação, Max Ritter.
O esquema foi revelado por uma ex-assessora, que além de procurar a polícia, contou os detalhes da fraude à reportagem da RBS TV, que realizou investigação independente.
Uma mulher, que trabalhava com o vereador desde 2017, fez três empréstimos que somam R$ 100 mil. À reportagem, ela disse que entregou todo o dinheiro a Carús, e que a maior parte do salário de R$ 14 mil era usado para pagar as parcelas do empréstimo. Ela decidiu fazer a denúncia depois de ter sido demitida.
"No início ele dizia que eram dívidas que ficaram da campanha que ele tinha que pagar e ele não tinha como. Que isso, na verdade, ficaria no primeiro ano de mandato e depois isso findaria, mas só que nunca teve fim. Cada vez foi só aumentando a dívida".
Numa gravação com câmera escondida, um funcionário da financeira que fez os empréstimo mostra que a empresa sabia do esquema. Ele cita o nome do vereador e diz que a ex-assessora não ficará com o "nome sujo".
"Acho que tu falou com o vereador André Carus também, né? Falei com o vereador também, por telefone, e mais, a diretoria está sabendo de tudo. Então, ficou garantido que vamos liquidar, na medida do possível, todo o teu CPF, sem nunca te trazer nenhum problema para o teu CPF", disse, sem saber que estava sendo gravado.
"Não podemos descartar essa hipótese que outras pessoas também tenham se locupetado [enriquecido] de alguma forma a partir do valor desses empréstimos que foram contraídos juntos a esta instituição financeira, se, com alguma parte ou com o valor integral de cada um desses empréstimos. É isso que, a partir das provas que apreendemos na data de hoje, vamos verificar", disse o delegado.