No início nada existia. O nada vasto sem matéria permeava o todo.
Nada existia? Nada existia. E Deus criou todas as coisas? Sim, Deus criou tudo que existe?
Sim. O bem e o mal existem?
Sim.
Então Deus criou o mal!
O conceito do bem e do mal e toda a sua complexidade, e reflexão sempre permearam o pensamento da espécie humana. Talvez, tenham sido criados pela nossa racionalidade como uma função vital para a vida em sociedade, ou talvez, sejam da natureza dos fatos do universo e espaço - tempo.
O que sabemos é que somos seres que pensam em suas ações. Que escolhem as suas atitudes e que de alguma forma, sentimos algo, mesmo que bioquímico entre neurotransmissores, mas algo em que podemos sim acreditar que existe, pelo menos, o conceito entre o bem e o mal.
A filosofia ética surgiu na sociedade como a reflexão sobre as condutas, e se tornou tão complexa quanto a evolução social humana. A ética criou condutas, a ética criou regras, o Direito, leis. O bem e o mal foram relativizados pela reflexão ética de cada cultura.
A possível vida em sociedade, desde as mais primitivas até as mais elaboradas passa pela reflexão sobre nossas ações.
Sigamos com o raciocínio:
Em tese partindo pela lógica ateísta podemos sim considerar que o Big Bang deu origem a tudo que existe. A matéria, a luz, aos átomos.
Pelo niilismo filosófico, podemos inclusive suscitar que a ética é apenas a forma humana de perpetuar a espécie humana e, por conseguinte a vida em sociedade. A ética seria o continuar de qualquer evolução Darwinística, seguindo como um instrumento social ocasionado pelas leis da ação e reação, criado por uma espécie que necessita da moral como fonte de organização social.
Pela lógica bíblica, podemos entender as coisas por ângulos menos céticos.
“No início só existiam trevas, e Deus criou a luz, só existia a ausência, e Deus criou a sua semelhança o ser humano”.
Sigamos com as duas linhas de raciocínio. A teológica e a cética científica.
Supostamente, pelos cientistas chegamos em um ponto histórico a entender que só existe o calor.
O frio seria a ausência de calor. Podemos medir o calor, mas não podemos medir o frio. Podemos medir a luz, mas não podemos medir a escuridão.
Podemos então entender o Bem como o oposto do mal, o exato oposto com proporcionalidade em direções contrárias.
Ou podemos comparar o Mal como a ausência do Bem criando a noção entre apenas uma grandeza e sua ausência, assim como a ciência define a ideia de calor e frio.
Podemos seguir esta premissa, mas na linha teológica, podemos entender de outra forma:
Por uma linha teológica, só existia o Bem. Existiam apenas Deus e os anjos. Apenas a perfeição e a bondade. Deus então quis criar uma assembleia e convidou todos os anjos. Deus queria criar a espécie humana. Ele queria criar o livre arbítrio. Poderíamos ter escolha sobre amar a Deus e o seguir sem reflexão. Ou, sermos ausentes, negligentes, e sem o amor intrínseco.
Lúcifer, o anjo mais bonito e que voava mais alto, queria a autocracia da admiração ao bem. Queria que só existissem os bons, e principalmente admiradores dos anjos e de sua perfeição.
Os votos dos anjos decidiram pelo livre arbítrio, decidiram pela independência.
O diabo, machucado em seu ego e fascinado pelo poder, convocou outros anjos, e a rebelião começou. Uma guerra nos céus, contra Deus, o criador.
Lúcifer e os anjos traidores, caíram na terra pelo poder Divino. Assim se originou a maldade. Do fascínio ao poder veio as trevas, e quase que ironicamente, a profecia do livre arbítrio foi estabelecida.
O que é o bem e o mal, então?
Será que só existe um se existir o outro? Será que o bem para ser bem precisa ser escolhido?
Este paradoxo sempre vai permear a reflexão humana.
Deus criou o mal, ou apenas ele o permite? Deus criou os anjos e a, transgressão pelo poder que criou o mal?
Se temos um filho, de quem é a responsabilidade para com suas ações? Sendo ele potente e capaz, não será o mesmo capaz de tomar suas próprias escolhas?
Enfim, mesmo que tudo seja um processo contínuo da evolução da matéria, passando pelo darwinismo e regido pelas leis da física, estamos no meio do processo infinito da evolução do universo.
Sim o bem, o amor, e tudo que sentimos pode ser fruto desta evolução contínua, com regras preestabelecidas pelas leis da física, num processo que anda sem nenhum julgamento e juízo de valor.
O amor pode sim apenas existir como uma necessidade de uma função social.
Mas, podemos acreditar que não. Podemos na ética encontrar a virtude, e ver o que significa cada decisão. Mesmo que impotente, mesmo que minúscula no universo.
Parece que acreditar no paradoxo ainda nos torna humanos, e que se Deus ainda permanecer vivo, pelo menos em nosso imaginário, vale a pena pelo que viver, lutar, escolher.
O bom não é aquele que toma boas ações e atitudes sem optar ou sem conhecer a maldade.
O bom não é o que nunca foi tentado.
O bom é aquele que, mesmo no vale das sombras, tentado mais de mil vezes, ainda assim escolheu a virtude. O bom é o pérfido que conviveu com as sombras, mas soube ver a luz.
Aquele que escutou o mal e aprendeu a conviver com ele, sem se corromper. O bom é o que caminhou no vale da perdição, munido apenas de exemplos ruins, corrompido em valores, mas que soube ver a luz por uma escolha em que não buscava benefícios, mas a retidão contemplada sem a moeda de troca.
Jesus não ensinou apenas no exemplo, Jesus ensinou ao sangrar.
Deu a própria vida e materializou a dor.
Foi no seu ato da crucificação que o complexo se tornou simples, e que podemos entender pela nossa própria experiência, o significado da bondade.
Ele materializou para tornar explícito.
Foi crucificado entre ladrões e bandidos.
A ética é uma das coisas mais complexas, é dela que se tiram as leis. É só por ela que existe a sociedade humana, a tecnologia, a saciedade de nossas necessidades.
Podemos sim ser apenas obras do acaso.
Mas ainda que perigoso, ainda que difícil, ainda que sufocante.
Viver é escolher entre as duas vozes.
Não, não. Deus não criou o mau.
Será que foi a humanidade? Será que apenas criamos o conceito?
“Paz na Terra aos homens de boa vontade”.
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