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Crônicas de Rodrigo Bender Dorneles

Crônicas de Rodrigo Bender Dorneles

Rodrigo Bender Dorneles é Bacharel em Administração. Administrador poeta e cronista. Trabalhou no agronegócio da família, e na CESA, Camaquã (RS). Mora atualmente em Porto Alegre, onde seguiu caminho profissional na área comercial.
Trabalha hoje como consultor de negócios em uma empresa de Assessoria tributária.
Filosofo de final de semana. Amante de história, sociologia e filosofia.

A Verdadeira história de Aquiles

29/07/2022 - 18h00min Rodrigo Bender / Foto: Depositphotos / Direitos Reservados

Os Gregos tinham na mitologia seus pilares éticos e suas formas de ver o mundo.

Os mitos continham todo um significado metafórico. E Foi esta cultura, mesmo através de suas histórias politeístas a primeira a refletir sobre a existência humana.

Perpetuando no pensamento ocidental os primeiros traços culturais de reflexão sobre a vida e a civilidade. Os Gregos são o berço do pensamento ocidental.

A mitologia o berço do pensar filosófico da vida e do desenvolvimento. Se hoje agradecemos ao ter a facilidade da tecnologia na ponta do celular foi porque os Gregos foram mais que criativos, e os mitos mais do qualquer história que se perde ao não ser escrita.

A princípio Homero foi um Grego precursor da historiografia e o primeiro historiador.

Porém não temos fatos nem comprovações históricas da maioria de seus relatos.

Ele uma vez contou a história de Aquiles, de Troia de Ulisses.

Eu vou lhes contar a verdadeira versão da história de Aquiles.

Não que alguém tenha me contato.

Aquiles nasceu como um semi Deus, filho da Deusa Tetis e de seu Pai um reles mortal.

Teve uma infância comum, foi tido pelos humanos como um bastardo. Filho de um Pai que transou com uma Deusa pouco respeitada.

Aquiles carregava o peso do seu destino. Não foi criado nem ensinado para viver com os humanos, foi criado para selar com o fim de sua vida, seu nome na eternidade.

Não respeitava Reis, não seguia conselhos, não tinha qualquer certeza e convicção sobre a vida.

Era arrogante, displicente, alcoólatra e fazia festas sem compromisso nenhum com qualquer batalha agendada para o outro dia.

Aquiles tinha nas conversas com sua mãe, alguns momentos de sanidade e pertinência, além disso levava uma vida desregrada sem comprometimentos.

Na verdade, Tetis sua mãe era a materialização do Oráculo, e roubava os segredos dos Deuses para transmitir ao seu filho conselhos mortais.

Aquiles já era crescido e um verdadeiro guerreiro, mercenário e continuava com sua imaturidade.

A Guerra de Troia estava para ser travada por Gregos e Troianos e Aquiles foi convidado a participar.

Sua mãe a materialização do Oráculo quis conversar com o filho.

E lhe contou a verdade. Aquiles teria duas opções.

A primeira seria não ir para a Guerra, ter uma vida normal, casar e ter filhos e seu nome se perderia através das gerações.

A segunda seria: ir para a guerra, vencer a Guerra quase que por si próprio e morrer apunhalado por uma flecha. Deixando seu nome na história e se tornando imortal como os Deuses.

Ok até ai Aquiles tinha um dilema.

Mas sua mãe lhe contou mais.

Sua mãe explicou que todos os semideuses eram pelos deuses amaldiçoados. Tidos como impuros.

Eram como mortais e imortais ao mesmo tempo. Eram como vivos e mortos. Habilidosos mas presos pelo karma. Com dons mas presos como ratos caminhando em círculos.

Na verdade, todos os Semi Deuses nasciam e morriam mais de uma vez. Nasciam, viviam e morriam e assim renasciam no mesmo lugar. Não sendo nem eternos, nem mortais.

Ou seja: Aquiles sempre nascia em 1300 ac e morria tempos depois. Mas depois renascia e voltava ao berço em 1300 ac. Tendo milhões de vezes a mesma vida.

Preso no espaço-tempo destinado a ser deus e perpétuo, mas sentindo o medo e a dor da morte.

Os Deuses souberam que Tedis contou o segredo.

Ela foi amaldiçoada. Aquiles também. Os Deuses cortaram as reencarnações de Aquiles.

Agora ele só teria mais o resto desta Vida. E teria o peso da escolha entre ficar e ter uma família, sendo esquecido. Ou Lutar na Guerra de Troia e ser lembrado pela eternidade. Agora Aquiles só teria mais esta decisão.

Decidiu ir a Troia, Lutar, vencer, morrer.

Perdeu o renascimento dado pelos Deuses, e se imortalizou de outra forma.

Foi autor e vítima do próprio destino.

Todo meu relato foi por mim criado para revelar a metáfora.

Para entendermos o paradoxo da vida e da morte e o paradoxo deste tal renascimento ao qual referi na história acima.

Sigamos o raciocínio.

Então Aquiles só ficou para a História pois escolheu em sua última vida ir a Troia?

Então na verdade em todas as outras vidas Aquiles escolheu a opção de ter filhos e família?

Então foi sua mãe que rompeu com o renascimento infinito, deixando Aquiles se imortalizar de outra forma?

Mas quão complexo é este raciocínio?

Se Aquiles sempre nasce em 1300 ac, tendo sempre as mesmas características com a mesma família, no mesmo reino, tendo suas escolhas, como ficaram as infinitas realidades paralelas?

Hora. Só na decisão dei r ou não para a Guerra, não teríamos milhares de hipóteses para a Humanidade?

Se Troia não for tomada a Historia mudaria completamente?

Esta é a Metáfora e o paradoxo do mito que eu mesmo criei.

Um conceito complexo entendido em um Mito. A materialização da Mitologia Grega.

Mais inovador que Homero, mais criativo que os Gregos, mais perspicaz que Tedis.

Mais corajoso que Aquiles.

Não roubei nenhum conceito do espiritismo, se entendermos o conceito que estou expondo entenderemos a ideia que estou propondo.

Imagina nascer sempre em 1990 com a mesma família e com as mesmas características, com os mesmos pais, irmãos, as mesmas alergias, a mesma cor.

Se tomamos uma decisão diferente o destino todo muda. Se não tiver filhos?

E se tiver? Como racionalizar isso em termos cognoscíveis?

Nos seres humanos vemos desta forma verticalizada.

Como se precisássemos morrer para termos novas vidas.

Como se cada escolha fosse uma renúncia e matasse todas as outras oportunidades.

Esta teoria faz parte da Teoria do eterno retorno ou da Eterna recorrência.

Foi muito trabalhada na antiguidade, por pitagóricos e outros filósofos.

Foi trabalhada também por filósofos como Nietzsche e Heidegger.

Exposta no Livro Gaia Ciência e também em Assim Falava Zaratrusta.

Esta é uma teoria que dialoga com alguns conceitos da física quântica.

Estamos vivos e mortos. As partículas podem se comportar como luz e ondas ao mesmo tempo.

Todo o multiuniverso está acontecendo simultaneamente.

Todas as outras versões de nós materializadas na complexidade do espaço- tempo.

Não foi Tedis que me passou este mito.

Nem o roubei dos Deuses.

Talvez apenas os semideuses, podem morrer e continuar eternos.

Talvez Aquiles tenha sido libertado de seu próprio Karma pela sua mãe.

Talvez Aquiles tinha alguma virtude que só os Deuses viam.

Obrigado Zeus pela fúria, Poseidom pela condolência, Ares pela esperança, Dionísio pela bebida. Apolo pelo teatro, Atena pela sabedoria.

A Cronos pela verdade.

A maior virtude do guerreiro não é saber ganhar, e sim saber perder.

Valorizar a virtude do outro que o golpeou.

A maior virtude de Aquiles foi saber morrer.

Mesmo que por uma flechada no calcanhar.

Um dia todos nos encontraremos o barqueiro.

Estejam preparados com suas moedas.

Paz na Terra aos homens de Boa vontade.

Foto: Depositphotos / Direitos Reservados

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